Distribuidores caminham para ano negativo diante de cenário adverso

A retração do consumo aparente nacional de aço e a pressão do mercado externo, que amarga excesso de capacidade instalada, devem impactar o desempenho da rede de distribuição em 2014.

SÃO PAULO – A queda do consumo aparente e a pressão do mercado externo – que sofre com o excesso de capacidade – devem resultar em um ano negativo para a rede de distribuição de aços planos, que chegou a projetar crescimento para 2014.

“Teremos um fechamento de ano muito ruim, aliás, alinhado com o desempenho das usinas”, afirmou nesta terça-feira (21) o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider), Carlos Loureiro.

Segundo o executivo, o final do ano se desenha muito ruim. “Principalmente dezembro, com férias coletivas por toda a parte”, destaca.

Para Loureiro, o consumo aparente de aço deve cair até 6% em 2014 e o desempenho das siderúrgicas pode ser de uma queda acima de dois dígitos. “Acreditamos que as usinas entregarão até 12% a menos neste ano”, diz.

Importações

As importações também tiveram um aumento significativo. No acumulado do ano, contabilizaram alta de 28,6% em relação ao mesmo período do ano passado, para 1,55 milhão de toneladas.

“Trata-se de um aumento grande, considerando que o desempenho das usinas caiu na mesma base”, acrescenta o presidente do Sindisider. Ainda de acordo com Loureiro, 80% das importações vêm da China. “Principalmente o Norte e o Nordeste estão se abastecendo da importação”, pontua.Ele explica que o alto custo do frete das regiões Sul e Sudeste inviabiliza as vendas para o Norte e Nordeste.”Metade da importação é feita para estas regiões. Trata-se de um mercado que já ficou para importação”, conta.Loureiro afirma ainda que este é o ano de maior penetração de aço importado no mercado nacional, perdendo apenas para 2010, que foi recorde neste quesito.

Em setembro, houve um declínio de 13,4% das compras dos associados do Sindisider na comparação anual. Já as vendas apresentaram um recuo de 11,5% na mesma base de comparação. Com isso, os estoques do mês passado recuaram 6,8% em relação a igual período de 2013, para um volume de 1,04 milhão de toneladas.

“O giro permaneceu em 2,9 meses, o que consideramos um pouco alto”, comenta Loureiro. Ele diz que o giro ideal é de cerca de 2,5 meses.Loureiro diz que, em setembro, houve uma ligeira queda de participação dos distribuidores no consumo aparente de aço. Porém, ainda se manteve alto historicamente.

“Nosso market share em setembro de 2008 era de 33%. Hoje, está em 46%”, pondera. “Com a situação atual, as empresas estão recorrendo mais à distribuição, principalmente devido às condições de pagamento e prazos de entrega mais favoráveis”, diz.

Com o mercado cada vez mais pressionado, o presidente do Sindisider não enxerga espaço para movimentação de preços no País.

“O preço chinês caiu muito em setembro e existe espaço para cair ainda mais”, explica Loureiro. O país asiático é responsável por mais da metade da produção mundial de aço, o que faz da China a grande referência de preços do setor.

Nas últimas semanas, o custo do minério caiu muito e as usinas chinesas pouco usam sucata, dependendo majoritariamente desse insumo.

Ainda em setembro, houve uma valorização do dólar. “Com o atual prêmio praticado no Brasil, eu não vejo nenhuma vantagem para usinas baixarem preços”, diz Loureiro.

O presidente do Sindisider evita refazer projeções para o ano. “Não vamos ficar mudando os números todo o mês”, diz Loureiro. “Mas certamente nosso desempenho será negativo em 2014”, reforça.

Desempenho global

A Associação Mundial do Aço (Worldsteel Association – WSA, na sigla em inglês) divulgou ontem os dados referentes ao desempenho da siderurgia global, em setembro.

Segundo a entidade, no mês passado a produção global de aço atingiu 134 milhões de toneladas, ligeiro recuo de 0,1% na comparação anual.

Ainda de acordo com a WSA, a utilização da capacidade instalada global no mês passado foi de 76,1%, um recuo de 2,6 pontos percentuais na comparação anual. Em relação a agosto, houve um aumento de 1,9 ponto percentual.

O desempenho da China, em setembro, foi estável na comparação anual, segundo a WSA. No mês passado, a produção chinesa atingiu 67,5 milhões de toneladas.

Na Ásia, a Índia teve aumento de 2,5% da produção em setembro, assim como a Coreia do Sul, que obteve alta de 10,1% na mesma base. Já o Japão teve um recuo de 0,5% em setembro de 2014.

Na Europa, Alemanha, França e Espanha tiveram queda da produção no mês passado, de 3%, 0,5% e 12,8% respectivamente na comparação anual.

Os Estados Unidos também registraram recuo da produção de aço em setembro. No mês passado foram produzidas 7,3 milhões de toneladas, ligeiro declínio de 0,1% em relação a igual período de 2013.

Já o Brasil produziu 2,9 milhões de toneladas de aço em setembro, um recuo de 3,8% na comparação anual.

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