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Mudança no Brasil pode favorecer relações econômicas com China

O economista Lívio Ribeiro, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera que a nova orientação econômica do Brasil, defendida pelo Presidente Michel Temer, vai intensificar as relações com a China.

Em entrevista à Lusa, o analista disse que o Governo projeta suas expectativas de crescimento e de recuperação econômica através da promoção do investimento e não pela aposta no consumo interno, como defendia a sua antecessora Dilma Rousseff.

A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil. Nos nove primeiros meses deste ano o país asiático foi o destino de 21% as exportações brasileiras, e origem de 19% das importações no mesmo período, segundo dados do Ministério Desenvolvimento Industria e Comércio Exterior (Mdic).

O Brasil vende para a China principalmente matérias-primas, destacando-se soja (moída e em grãos), ferro e petróleo. Em contrapartida compra principalmente máquinas, bens manufaturados e eletrónicos.

Ao alterar o modelo de crescimento económico, o país sul-americano poderá intensificar as trocas com a China, seu grande fornecedor de bens de capital e bens intermediários.

Lívio Ribeiro lembrou que o Governo Temer defende um “aumento do uso de capital privado para investimentos”, algo que poderá incentivar a entrada das empresas chinesas no mercado local, aproveitando as mudanças macroeconómicas implantadas pela China nos últimos anos.

“O perfil atual dos investimentos chineses leva em conta três grandes vetores. O primeiro seria uma política de verticalização, que consiste na tentativa de controlar os fornecedores de seus produtos finais, que o país asiático já aplica na África, Oceânia e América Latina. O segundo seria garantir o suprimento dos produtos que importa e o terceiro a promoção da entrada de suas empresas em outros mercados”, explicou.

Ao abrir-se “mais para investidores estrangeiros o Brasil atenderia a economia chinesa, que não quer só comprar ‘commodities’ [matérias-primas], mas também participar do mercado brasileiro, o sexto maior do mundo”, salientou Lívio Ribeiro.

Um exemplo de atração do capital chinês foi a venda 25% de participação da empresa brasileira de transmissão elétrica CPFL à chinesa Start Grid, anunciada durante a visita de Temer fez à China em setembro, na última reunião do G20.

O economista, no entanto, considera que ainda não é possível falar numa mudança palatável nas relações entre Brasil e China, mas sim diagnosticar que há sinais de uma alteração de intensão neste relacionamento.

Já Silvio Miyazaki, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), considera que as trocas entre os dois países são pautadas por uma “dependência” que desfavorece o Brasil.

“A China foi importante para o desenvolvimento económico brasileiro durante o ciclo de alta das ‘commodities’. Quando os chineses diminuíram as importações o Brasil foi impactado porque sua relação com a China é mais de dependência do que de parceria” avaliou.

Em declarações à Lusa, o docente defende que a China e o Brasil precisa, de ser capazes de fazer acordos bilaterais, impedidos hoje pelo Mercosul, que só permite negociações comerciais em bloco.