Arquivos mensais: janeiro 2015

Importação de Fertilizantes da China em Ascensão

A China, que vem ampliando as exportações de fertilizantes para o Brasil desde 2012, poderá vender ainda mais adubos – notadamente os com base em fosfatos – ao país após a unificação e a redução de suas tarifas de exportação para esses produtos. A medida passará a vigorar este ano. Antes, as tarifas eram mais baixas apenas durante janelas estabelecidas em alguns períodos do ano, diz João Santucci, analista da INTL FCStone.

As tarifas para exportação de fosfatados, por exemplo, que no período de janela de preços mais altos, chegou a 110% (sobre o valor do embarque) em 2012, passou a 100 yuans por tonelada em 2015, o equivalente a US$ 16,11 (câmbio de sexta-feira).

Embora o Brasil importe volume baixo de fertilizantes da China em comparação com outros grandes fornecedores, as compras do país asiático cresceram ao longo dos últimos anos em virtude de uma política de progressiva liberação do mercado chinês, em que foram reduzidas significativamente suas tarifas de exportação.

É notável o incremento da participação chinesa nas importações brasileiras de adubos fosfatados. A China passou de uma participação de apenas 0,4% em 2012 nas compras brasileiras de MAP (fosfato monoamônico) para 14,6% em 2014 (439 mil toneladas). Em DAP (fosfato diamônico), na mesma comparação, a fatia saiu de 0% para 9% (68 mil toneladas), conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), compilados pela FCStone. (ver gráfico acima)

Agora, o ambiente menos incerto na relação com a China deve incentivar as negociações. A China é a maior produtora mundial de fertilizantes fosfatados e foi a maior exportadora de DAP (fosfato diamônico) em 2013, segundo a Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes (IFA, em inglês).

O Brasil importa mais de 70% dos fertilizantes que utiliza. Somente em fosfatados, a importação é superior a 50%. Entre as principais fontes externas de adubos fosfatados, estão Marrocos, EUA, Rússia e China. No ano passado, conforme dados da Secex, a China já foi a segunda maior exportadora de superfosfato triplo (TSP) e a terceira maior exportadora de DAP (fosfato diamônico) e de superfosfato simples (SSP) ao Brasil, em volume. No caso de MAP (fosfato monoamônico), o país asiático foi o quarto maior fornecedor ao Brasil.

Santucci, da FCStone, estima que a unificação das tarifas de exportação tornará a China mais competitiva não somente no Brasil, mas em todo o mercado “ocidental” de fertilizantes. A política fará o país asiático ter preços mais baratos o ano todo. Além disso, observa ele, a possibilidade de logística reversa poderá ser um ponto a favor, com o envio de grãos brasileiros ao país asiático nos mesmos navios que chegam carregados de fertilizantes.

Uma fonte do setor afirma que o produto chinês tem a vantagem de ser efetivamente mais barato. Entretanto, existe a desvantagem de recebimento de produtos não uniformes. Segundo essa fonte, tradings relatam que algumas plantas na China não produzem esses fertilizantes com a qualidade exigida. Além disso, em função da logística do país, em alguns casos, esses produtos são misturados a outros de diversas origens nos armazéns marítimos, de onde são embarcados.

Dentre os fertilizantes exportados pela China, os com base no nitrogênio não têm apresentado crescimento nas vendas ao mercado brasileiro. O motivo é que o Brasil mudou seu perfil de compra, saindo de um tipo de ureia, chamada prill – mais exportada pela China – para a granular, de melhor qualidade, segundo Santucci.

Além da China, outro importante balizador do mercado internacional de fertilizantes é a demanda americana por adubos à base de nitrogênio. A retração das aplicações de outono de amônia anidra (principal produto usado na reposição do nutriente nitrogênio) nos EUA em 2014 nas culturas de grãos deverá transferir a demanda do país para ureia – cuja armazenagem é mais simples que a da amônia anidra – para abril e maio, antes do plantio da safra, forçando a importação desse produto, observa Santucci. Isso poderá dar impulso aos preços da ureia neste primeiro semestre.

Além disso, os EUA poderão reduzir suas exportações de fosfatados em função de uma maior demanda doméstica em decorrência da perspectiva de preços mais favoráveis para a soja ante os do milho. Isso deverá levar ao incremento da área da oleaginosa no país, cultura que demanda mais fertilizantes fosfatados.

Em outra ponta, o preço internacional do cloreto de potássio (KCl) dificilmente deverá ter redução significativa em função da força do oligopólio formado pelos maiores produtores mundiais. As empresas já tinham sinalizado que reajustariam os preços. Afora isso, há incertezas sobre a capacidade produtiva da Uralkali – uma das maiores produtoras mundiais de potássio -, uma vez que problemas com uma de suas minas podem restringir a disponibilidade do produto.

Fonte: Carine Ferreira, do Valor Economico